Hoje saíram os indicados ao VMB 2010. "Recomeçar" está concorrendo como melhor videoclipe do ano, e o Restart lidera o número de indicações ao lado do NX Zero. O clipe também está concorrendo ao Prêmio Multishow de Musica Brasileira, como melhor do ano. Contarei algumas verdades sobre ele:
Há exatos dois anos, vivíamos a expectativa de ser indicados ao VMB com o clipe "Diária.mente", do Granada. Não fomos. Desde então, criamos uma certa obsessão pelo prêmio. Quem nos conhece sabe que nosso maior tesão é videoclipe. Isso vem da infância. Lembro de assistir as primeiras edições, ainda criança, torcendo por clipes do Paralamas do Sucesso, Skank e Racionais Mc's. Eu achava mais legal ganhar o VMB que ganhar o Oscar.
Quase um ano depois, em abril do ano passado, o Elton, ex-produtor de shows do Granada, chamou o Everton (nosso Diretor de Fotografia) no Msn e disse:
-Tenho uma banda pra vocês fazerem o videoclipe. Coisa fina!
-Qual banda?
-Chama "Restart", é nova, mas tão chegando com tudo.
-Bacana, velho. E quanto teríamos de verba pra produzir?
-3 mil.
-É pouco cara, com 3 mil a gente não paga nem equipamento.
-Esse valor é conversável. Vamos marcar uma reunião?
-Bora.
Everton mandou um e-mail para o resto da Controle. Todos toparam a reunião. Na pesquisa imediata sobre a banda, na internet, a primeira coisa que achei era um blog dizendo que Restart era uma cópia barata de Cine. Cerca de um mês antes, eu tinha ligado para o filho do produtor do Cine me oferecendo para produzirmos o clipe deles. Mandamos o conceito do que imaginávamos para o clipe por e-mail. O conceito era mostrar a banda tocando com enormes leds coloridos ao fundo, num clima de festa, cheio de efeitos visuais. Ficamos sem resposta. O próprio filho do produtor do Cine dirigiu o clipe "Garota Radical", curiosamente com leds coloridos e festa. Decidi ouvir as músicas do Restart. Para minha surpresa, e de toda a Controle, achamos melhores que as do Cine, contrariando tudo que liamos na época.
Nos encontramos pela primeira vez no bar Bossa Nova, na Augusta. Como todo o país, a primeira impressão ao ver os quatro moleques coloridos foi de estranheza. Pedimos uma cerveja. Eles disseram que não bebiam. A conversa foi rolando. Praticamente só o Pe Lu falava, era o interlocutor do grupo. O mais contido era o Pe Lanza. Nem poderíamos imaginar que ele se tornaria o monstro que é hoje no palco. É o melhor frontman do país na atualidade. Os quatro demonstraram ser muito gente boa. E humildes. Logo no início, Pe Lu falava sobre a banda, que tinham assinado com uma gravadora independe, a Artmix. Sem perder a humildade, mas com uma convicção invejável, ele disse:
- Nós queremos ser a maior banda do país. E se depender da gente nós seremos.
Ele nos convenceu. Decidimos apostar na banda. 90% da idéia do clipe saiu daquela reunião. Fomos embora empolgados. Continuamos ouvindo sem parar as músicas do myspace e quando vimos, estávamos tão envolvidos pelo romantismo teen do som, que viramos fãs dos meninos.
Marcamos mais uma reunião. Esta seria a definitiva para iniciar a produção do clipe. Fomos com a Christine, o Chevette vermelho do Everton, nosso veículo oficial, até o escritório da Artmix, na zona norte. Lá estavam a banda e o Guto Campos, Produtor Musical e dono da gravadora. Conversa vai, conversa vem, chegamos num consenso de que aquele poderia ser o clipe que alavancaria a carreira tanto do Restart quanto da Controle Remoto Filmes. Aceitamos trabalhar sem receber cachê. Estava inciada a produção do clipe.
Em meio a pré-produção, descobrimos que seria impossível realizar o que queríamos com a verba de R$3000. Precisaríamos de uma verba maior. Pedimos mais dinheiro para o Guto. Ele nos disse que seria complicado, que não poderia investir tanto num primeiro clipe. Nós insistimos, mostramos nosso projeto de fazer um clipe acima da média. Ele confiou na gente. Liberou um orçamento um pouco maior. Ainda não era o bastante, nem de longe. Ele não foi turrão, nem injusto, apenas jogou a real. Foi sincero, deu as regras, e nós aceitamos. Não teríamos mais do que isso. Era fazer ou fazer. Começamos à tirar leite de pedra. Conseguimos permutas, parceiros, choramos, como nunca tínhamos chorado, os menores preços em todos os lugares, cortamos efeitos mais caros, desistimos de equipamentos mais sofisticados, e chegamos ao orçamento que tínhamos.
O Bruno, que escreveu o roteiro junto comigo, teve que sair do projeto. Ficamos eu (direção), Everton e Cleber (fotografia) e Murilo (produção). Acumulamos funções, muitas. Começamos a nos preocupar seriamente com esse acúmulo de funções. Estávamos sobrecarregados e não sabíamos se conseguiríamos exercer nossas funções no set de maneira correta. Ainda estávamos na faculdade, e chamamos alguns amigos para nos ajudar. Se não fossem eles, o clipe não tinha saído do papel. A pressão era grande. O Restart crescia de forma vertiginosa. Começaram a lotar shows, aparecer na mídia, e sabíamos que se o clipe saísse uma merda, nos queimaríamos no meio. Para piorar, adiamos a gravação três vezes. Todas por causa de estúdio. Na terceira vez, o Guto me ligou e disse que seria melhor adiar o clipe:
Há exatos dois anos, vivíamos a expectativa de ser indicados ao VMB com o clipe "Diária.mente", do Granada. Não fomos. Desde então, criamos uma certa obsessão pelo prêmio. Quem nos conhece sabe que nosso maior tesão é videoclipe. Isso vem da infância. Lembro de assistir as primeiras edições, ainda criança, torcendo por clipes do Paralamas do Sucesso, Skank e Racionais Mc's. Eu achava mais legal ganhar o VMB que ganhar o Oscar.
Quase um ano depois, em abril do ano passado, o Elton, ex-produtor de shows do Granada, chamou o Everton (nosso Diretor de Fotografia) no Msn e disse:
-Tenho uma banda pra vocês fazerem o videoclipe. Coisa fina!
-Qual banda?
-Chama "Restart", é nova, mas tão chegando com tudo.
-Bacana, velho. E quanto teríamos de verba pra produzir?
-3 mil.
-É pouco cara, com 3 mil a gente não paga nem equipamento.
-Esse valor é conversável. Vamos marcar uma reunião?
-Bora.
Everton mandou um e-mail para o resto da Controle. Todos toparam a reunião. Na pesquisa imediata sobre a banda, na internet, a primeira coisa que achei era um blog dizendo que Restart era uma cópia barata de Cine. Cerca de um mês antes, eu tinha ligado para o filho do produtor do Cine me oferecendo para produzirmos o clipe deles. Mandamos o conceito do que imaginávamos para o clipe por e-mail. O conceito era mostrar a banda tocando com enormes leds coloridos ao fundo, num clima de festa, cheio de efeitos visuais. Ficamos sem resposta. O próprio filho do produtor do Cine dirigiu o clipe "Garota Radical", curiosamente com leds coloridos e festa. Decidi ouvir as músicas do Restart. Para minha surpresa, e de toda a Controle, achamos melhores que as do Cine, contrariando tudo que liamos na época.
Nos encontramos pela primeira vez no bar Bossa Nova, na Augusta. Como todo o país, a primeira impressão ao ver os quatro moleques coloridos foi de estranheza. Pedimos uma cerveja. Eles disseram que não bebiam. A conversa foi rolando. Praticamente só o Pe Lu falava, era o interlocutor do grupo. O mais contido era o Pe Lanza. Nem poderíamos imaginar que ele se tornaria o monstro que é hoje no palco. É o melhor frontman do país na atualidade. Os quatro demonstraram ser muito gente boa. E humildes. Logo no início, Pe Lu falava sobre a banda, que tinham assinado com uma gravadora independe, a Artmix. Sem perder a humildade, mas com uma convicção invejável, ele disse:
- Nós queremos ser a maior banda do país. E se depender da gente nós seremos.
Ele nos convenceu. Decidimos apostar na banda. 90% da idéia do clipe saiu daquela reunião. Fomos embora empolgados. Continuamos ouvindo sem parar as músicas do myspace e quando vimos, estávamos tão envolvidos pelo romantismo teen do som, que viramos fãs dos meninos.
Marcamos mais uma reunião. Esta seria a definitiva para iniciar a produção do clipe. Fomos com a Christine, o Chevette vermelho do Everton, nosso veículo oficial, até o escritório da Artmix, na zona norte. Lá estavam a banda e o Guto Campos, Produtor Musical e dono da gravadora. Conversa vai, conversa vem, chegamos num consenso de que aquele poderia ser o clipe que alavancaria a carreira tanto do Restart quanto da Controle Remoto Filmes. Aceitamos trabalhar sem receber cachê. Estava inciada a produção do clipe.
Em meio a pré-produção, descobrimos que seria impossível realizar o que queríamos com a verba de R$3000. Precisaríamos de uma verba maior. Pedimos mais dinheiro para o Guto. Ele nos disse que seria complicado, que não poderia investir tanto num primeiro clipe. Nós insistimos, mostramos nosso projeto de fazer um clipe acima da média. Ele confiou na gente. Liberou um orçamento um pouco maior. Ainda não era o bastante, nem de longe. Ele não foi turrão, nem injusto, apenas jogou a real. Foi sincero, deu as regras, e nós aceitamos. Não teríamos mais do que isso. Era fazer ou fazer. Começamos à tirar leite de pedra. Conseguimos permutas, parceiros, choramos, como nunca tínhamos chorado, os menores preços em todos os lugares, cortamos efeitos mais caros, desistimos de equipamentos mais sofisticados, e chegamos ao orçamento que tínhamos.
O Bruno, que escreveu o roteiro junto comigo, teve que sair do projeto. Ficamos eu (direção), Everton e Cleber (fotografia) e Murilo (produção). Acumulamos funções, muitas. Começamos a nos preocupar seriamente com esse acúmulo de funções. Estávamos sobrecarregados e não sabíamos se conseguiríamos exercer nossas funções no set de maneira correta. Ainda estávamos na faculdade, e chamamos alguns amigos para nos ajudar. Se não fossem eles, o clipe não tinha saído do papel. A pressão era grande. O Restart crescia de forma vertiginosa. Começaram a lotar shows, aparecer na mídia, e sabíamos que se o clipe saísse uma merda, nos queimaríamos no meio. Para piorar, adiamos a gravação três vezes. Todas por causa de estúdio. Na terceira vez, o Guto me ligou e disse que seria melhor adiar o clipe:
-Não está dando certo, Graziano. Melhor cancelarmos a produção.
Ele estava certo. Era o dinheiro dele e a imagem da banda em questão. Pedimos uma última chance. Estávamos fazendo milagre com o dinheiro. Estávamos dando o sangue. Ele notou isso e nos deu a última chance. A nossa sorte foi ter encontrado o estúdio Movietrack. O Chico, dono, e a Ângela, que nos acompanhou na gravação, foram mais que parceiros profissionais. Eles foram heróis, nos ajudando em tudo que necessitávamos, além do que eles precisavam oferecer. Nunca iremos esquecer desta ajuda.
Dias antes de rodar, fomos numa odisséia extraordinária cuidar de tudo que faltava. Comprar as bolinhas, as tintas, as bolas, os balões, a rede, pintar o estúdio, testar os efeitos, cuidar da alimentação (que minha gentil mãe nos salvou no dia) e etc. Nós quatro, que ainda tínhamos que nos preocupar com a estética, a decupagem, a luz, a performance e tudo mais. Dois dias antes de rodar foi um dia fatídico, que nunca iremos esquecer. Estávamos lutando contra o tempo, rodando São Paulo com o Escort Guarujá 92 do Murilo, quando o carro quebrou, e ficamos ilhados durante uma tarde inteira sem poder nos locomover, sem crédito nos celulares e com trocados que davam apenas para a Coca-cola e pro cigarro. O desespero foi tanto, que uma hora os quatro estavam sentados na sarjeta, num pôr-do-sol cinzento, se olhando desiludidos com o mesmo pensamento:
Dias antes de rodar, fomos numa odisséia extraordinária cuidar de tudo que faltava. Comprar as bolinhas, as tintas, as bolas, os balões, a rede, pintar o estúdio, testar os efeitos, cuidar da alimentação (que minha gentil mãe nos salvou no dia) e etc. Nós quatro, que ainda tínhamos que nos preocupar com a estética, a decupagem, a luz, a performance e tudo mais. Dois dias antes de rodar foi um dia fatídico, que nunca iremos esquecer. Estávamos lutando contra o tempo, rodando São Paulo com o Escort Guarujá 92 do Murilo, quando o carro quebrou, e ficamos ilhados durante uma tarde inteira sem poder nos locomover, sem crédito nos celulares e com trocados que davam apenas para a Coca-cola e pro cigarro. O desespero foi tanto, que uma hora os quatro estavam sentados na sarjeta, num pôr-do-sol cinzento, se olhando desiludidos com o mesmo pensamento:
- Estamos acabados! Vamos desistir enquanto é tempo.
Foi ai que entrou outro herói do clipe - Rafael Borghi, responsável pelos efeitos de arte, que foi nos buscar, nos ajudou a testar o que faltava, e nos levou até o metrô. Eu fui pra minha antiga casa, na Santa Cruz. O Murilo, Everton e Cleber foram para São Caetano, de ônibus, levando quase 50kg de tintas no braço. Sentados próximos ao cobrador, que cantava uma música brega de otimismo, riram com vontade de chorar. Era a tragicomédia do cinema de terceiro mundo.
Chegou o grande dia. Estávamos há dois dias sem dormir. Em claro. Incontáveis latinhas de Red Bull adentravam nosso corpo. Estava tudo dando certo, mas com atraso. A banda chegou no set extremamente animada. Era o primeiro clipe deles. Pra uma banda, é como a perda de uma virgindade. A alegria e otimismo dos meninos nos contagiou. Sem combinar, omitimos todo e qualquer percalço. Fomos tomados novamente pela vibe colorida. Pode parecer bobagem, mas não foi. Começamos à filmar. Estava dando tudo errado. O efeito do fim, com spray, vidro e reverse, não funcionava. Estávamos muito atrasados. A pressão aumentou. Estávamos exaustos, e o acumulo de funções começou à pesar. O Everton e o Cleber, sem assistentes, operavam câmera, mexiam na luz, ligavam o videoassist. O Murilo, além de ter sido produtor executivo, foi ass. de direção e operador da mesa de luz. Eu, além de dirigir, pegava bolinhas do chão e botava de novo nos baldes, ajudei a prender a rede do teto e empurrei o Dolly em alguns momentos. Com um quê de mistério, ou mais que isso, um dedo divino, tudo começou à dar certo. Os efeitos funcionaram, a performance da banda foi excepcional, a equipe estava ferozmente unida, e como dizem no cinema; a hora mágica aconteceu. Gravamos tudo que estava no roteiro. Mas estimamos que ficou 70% do que gostariamos. Foi uma diária de 16 horas. Estávamos há 3 dias sem dormir. A banda e o Guto foram embora animadíssimos, confiantes com o material gravado.
Quando todos foram embora, sobraram nós 4, novamente. Estávamos em meio a um alagado estúdio de tinta, bolinhas, bexigas estouradas e bolas de piscina. Equipamento para ser desmontado e luz para ser retirada. Nosso gaffer e maquinista, e seus assistentes, nos deixaram na mão, pra piorar tudo. Tínhamos que, após três dias sem dormir, e uma diária desgastante, desproduzir tudo. Mais que exaustos, com o limite do corpo chegando ao fim, novamente nos olhamos e comentamos:
-E ai, será que dá clipe?
-Eu acho que ficou uma bosta.
-Eu também. Cagamos no pau.
-Fudeu, vai ser foda montar.
-Bicho, essa foi a última vez. Não dá pra fazer clipe assim.
Nosso estado era tão deplorável, tão sub-humano, que não conseguíamos ver beleza em mais nada. Começamos a desproduzir numa lentidão quase plástica. Aos poucos, víamos que nenhum de nós conseguíamos mais raciocinar. Um estava com um rodo fazendo movimentos circulares para tirar o excesso de tinta, sem sucesso. Outro estava no alto da escada, segurando um refletor sem saber o que fazer com ele. Outro pegava as bolinhas do chão uma por uma, com a cabeça baixa (eram 2000). Outro passava pano com Veja nos equipamentos, mas esquecia de por Veja no pano, e não conseguia limpar. Não poderíamos ter deixado o estúdio como deixamos. Não era o combinado. O excesso de tinta acumulado no chão precisou ser lixado posteriormente. O estúdio não nos cobrou este extra. E, novamente, o Chico e a Ângela nos deram todo o apoio. Uma hora, desistimos. Nos entregamos ao sono onde estávamos, no chão. De manhã, acabamos de desproduzir. Já se completavam quase 4 dias sem dormir direito, apenas cochilos. Não comíamos desde o almoço do dia anterior, e ainda precisavamos devolver alguns equipamentos. Os quatro, sem exceção, seguraram o choro. Poderíamos ter chorado, era a vontade, mas alguma força machista nos impediu.
Duas semanas depois o clipe estava montado. Eu mesmo que montei. Passada a depressão pós-set, a mais brutal que tive até hoje (cheguei a me decidir seriamente em desistir do cinema), voltamos à nossa convicção natural, e respeitando a mística, o sonho que destruimos durante o processo de produção, voltou à ter vida na ilha de edição. Tínhamos um clipe divertido, que passava muito bem a imagem da banda, e com várias surpresas durante o decorrer. Chegava a hora de mostrar para a banda e empresários. Enviei um link do Youtube privado. Estávamos apreensivos. A resposta do Guto foi:
-FUUUUUUUUUUUDIDO!
A banda também rasgou elogios ao clipe. No dia seguinte, o Guto me ligou esbanjando alegria:
-O clipe ficou sensacional, Graziano. Mostrei pro Maynard (o diretor artístico da banda) e ele disse que foi o melhor clipe que ele já bancou (ele foi co-produtor, junto com o Guto). Parabéns!
O clipe estreou na internet e é um fenômeno até hoje. Já soma quase 10 milhões de views. Foi exibido nos principais canais de videoclipe do país e ficou quase um mês em primeiro lugar no Top 10 Mtv. No lançamento do CD "Restart", em clima de festa, fui parabenizado (representando a produtora) com ênfase por banda, produtores, diretores de rádio e televisão. Marcos Maynard, um dos maiores managers da indústria fonográfica da história do país, me deu um tapinha amigo no rosto e urrou:
-Esse clipe ganha prêmio, Graziano, ouve o que eu to te falando, esse clipe ganha prêmio!
Só pra constar, o orçamento estourou. O clipe custou R$7000 (o orçamento ideal do clipe, com todos os cachês pagos, seria de R$30000). Nós colocamos R$1500 do bolso. Mas naquele momento, com o êxito do projeto, o rombo não foi tão indigesto. Hoje temos a certeza de que valeu a pena o esforço, ganhando ou não os prêmios. "Recomeçar" foi a produção mais desgastante que a Controle Remoto Filmes já realizou, e até o momento é a mais bem-sucedida.
Chegou o grande dia. Estávamos há dois dias sem dormir. Em claro. Incontáveis latinhas de Red Bull adentravam nosso corpo. Estava tudo dando certo, mas com atraso. A banda chegou no set extremamente animada. Era o primeiro clipe deles. Pra uma banda, é como a perda de uma virgindade. A alegria e otimismo dos meninos nos contagiou. Sem combinar, omitimos todo e qualquer percalço. Fomos tomados novamente pela vibe colorida. Pode parecer bobagem, mas não foi. Começamos à filmar. Estava dando tudo errado. O efeito do fim, com spray, vidro e reverse, não funcionava. Estávamos muito atrasados. A pressão aumentou. Estávamos exaustos, e o acumulo de funções começou à pesar. O Everton e o Cleber, sem assistentes, operavam câmera, mexiam na luz, ligavam o videoassist. O Murilo, além de ter sido produtor executivo, foi ass. de direção e operador da mesa de luz. Eu, além de dirigir, pegava bolinhas do chão e botava de novo nos baldes, ajudei a prender a rede do teto e empurrei o Dolly em alguns momentos. Com um quê de mistério, ou mais que isso, um dedo divino, tudo começou à dar certo. Os efeitos funcionaram, a performance da banda foi excepcional, a equipe estava ferozmente unida, e como dizem no cinema; a hora mágica aconteceu. Gravamos tudo que estava no roteiro. Mas estimamos que ficou 70% do que gostariamos. Foi uma diária de 16 horas. Estávamos há 3 dias sem dormir. A banda e o Guto foram embora animadíssimos, confiantes com o material gravado.
Quando todos foram embora, sobraram nós 4, novamente. Estávamos em meio a um alagado estúdio de tinta, bolinhas, bexigas estouradas e bolas de piscina. Equipamento para ser desmontado e luz para ser retirada. Nosso gaffer e maquinista, e seus assistentes, nos deixaram na mão, pra piorar tudo. Tínhamos que, após três dias sem dormir, e uma diária desgastante, desproduzir tudo. Mais que exaustos, com o limite do corpo chegando ao fim, novamente nos olhamos e comentamos:
-E ai, será que dá clipe?
-Eu acho que ficou uma bosta.
-Eu também. Cagamos no pau.
-Fudeu, vai ser foda montar.
-Bicho, essa foi a última vez. Não dá pra fazer clipe assim.
Nosso estado era tão deplorável, tão sub-humano, que não conseguíamos ver beleza em mais nada. Começamos a desproduzir numa lentidão quase plástica. Aos poucos, víamos que nenhum de nós conseguíamos mais raciocinar. Um estava com um rodo fazendo movimentos circulares para tirar o excesso de tinta, sem sucesso. Outro estava no alto da escada, segurando um refletor sem saber o que fazer com ele. Outro pegava as bolinhas do chão uma por uma, com a cabeça baixa (eram 2000). Outro passava pano com Veja nos equipamentos, mas esquecia de por Veja no pano, e não conseguia limpar. Não poderíamos ter deixado o estúdio como deixamos. Não era o combinado. O excesso de tinta acumulado no chão precisou ser lixado posteriormente. O estúdio não nos cobrou este extra. E, novamente, o Chico e a Ângela nos deram todo o apoio. Uma hora, desistimos. Nos entregamos ao sono onde estávamos, no chão. De manhã, acabamos de desproduzir. Já se completavam quase 4 dias sem dormir direito, apenas cochilos. Não comíamos desde o almoço do dia anterior, e ainda precisavamos devolver alguns equipamentos. Os quatro, sem exceção, seguraram o choro. Poderíamos ter chorado, era a vontade, mas alguma força machista nos impediu.
Duas semanas depois o clipe estava montado. Eu mesmo que montei. Passada a depressão pós-set, a mais brutal que tive até hoje (cheguei a me decidir seriamente em desistir do cinema), voltamos à nossa convicção natural, e respeitando a mística, o sonho que destruimos durante o processo de produção, voltou à ter vida na ilha de edição. Tínhamos um clipe divertido, que passava muito bem a imagem da banda, e com várias surpresas durante o decorrer. Chegava a hora de mostrar para a banda e empresários. Enviei um link do Youtube privado. Estávamos apreensivos. A resposta do Guto foi:
-FUUUUUUUUUUUDIDO!
A banda também rasgou elogios ao clipe. No dia seguinte, o Guto me ligou esbanjando alegria:
-O clipe ficou sensacional, Graziano. Mostrei pro Maynard (o diretor artístico da banda) e ele disse que foi o melhor clipe que ele já bancou (ele foi co-produtor, junto com o Guto). Parabéns!
O clipe estreou na internet e é um fenômeno até hoje. Já soma quase 10 milhões de views. Foi exibido nos principais canais de videoclipe do país e ficou quase um mês em primeiro lugar no Top 10 Mtv. No lançamento do CD "Restart", em clima de festa, fui parabenizado (representando a produtora) com ênfase por banda, produtores, diretores de rádio e televisão. Marcos Maynard, um dos maiores managers da indústria fonográfica da história do país, me deu um tapinha amigo no rosto e urrou:
-Esse clipe ganha prêmio, Graziano, ouve o que eu to te falando, esse clipe ganha prêmio!
Só pra constar, o orçamento estourou. O clipe custou R$7000 (o orçamento ideal do clipe, com todos os cachês pagos, seria de R$30000). Nós colocamos R$1500 do bolso. Mas naquele momento, com o êxito do projeto, o rombo não foi tão indigesto. Hoje temos a certeza de que valeu a pena o esforço, ganhando ou não os prêmios. "Recomeçar" foi a produção mais desgastante que a Controle Remoto Filmes já realizou, e até o momento é a mais bem-sucedida.
Respeitosamente,
Bruno Graziano.
Bruno Graziano.
Arrepiou neh? Que história!!! Só temos a agradecer por eles não terem desistido desse sonho deles e dos meninos também.E eu acho que a melhor forma do mostrar o quanto prezamos todo esse esforço é levando o prêmio neh?
Então vote muito:
CREDITOS:controle--remoto.blogspot
é eu sei que vc s sofreram muito mais aposto que valeu cada segundo é só olhar ao seu redor
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